terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Azzurra, Canarinho, Le Bleu, Celeste: a representatividade das cores.


Vermelho, branco, verde, azul, preto, amarelo são cores que estão presentes em camisas e bandeiras pelos estádios mundo afora. Cada qual transmitindo sensações, significados, representando um time ou uma comunidade inteira. A verdade é que no processo de formação de identidade de um clube as cores desempenham papel central. De um lado para definir a identidade comunitária para si mesmo, como ilustra o caso de dois times da mesma cidade, o Everton e o Liverpool. O primeiro, criado em 1878, tinha como cor o azul, porém pouco tempo depois mudou para o vermelho. No entanto, um grupo de jogadores abandonou o clube e, em 1892, fundou o Liverpool, adotando o azul. Mas em 1896 o Everton retornou ao azul e o rival passou ao vermelho, que o identificou de tal forma que passou a ser o apelido do time (Reds).

Essa questão das cores aparece também na conotação sociológica dos diferentes tons de vermelho do Milan, do Torino e da Roma para sugerir clãs do proletariado urbano e nos tons de azul da Internazionale e da Lazio que apontam, respectivamente, clãs da burguesia urbana e da aristocracia fundiária. E por questão ideológica a seleção holandesa trocou as cores nacionais (vermelho, branco e azul) pelo laranja da dinastia Orange, que no século XVI libertou o país da ocupação espanhola. Do mesmo modo a seleção italiana não utiliza as cores da bandeira (verde, branco e vermelho) no uniforme, e sim, desde 1912, o azul da dinastia de Savóia, que governava o país. Daí seu apelido futebolístico Azzurra.

Por coincidência ou não o vermelho é uma das cores que predominam nos campos de futebol. Tal cor está associada à maior nível de testosterona e, por conseguinte, agressividade e capacidade física. Um dos fundadores do Milan, Herbert Kelpin, explicou a escolha das cores do clube: “optemos pelo vermelho porque somos diabos. Coloquemos um pouco de preto para dar medo a todos”. E a cor do diabo assim caracteriza os times que a adotam: Manchester United ou Red Devils, Independiente ou Diablos Rojos e a seleção belga conhecida como Diables Rouges.

O Brasil, com identidade nacional ainda em construção quando da introdução do futebol, abandonou o branco usado até a Copa de 1950 pela seleção nacional para utilizar a clássica amarela ou Canarinho.

Assim sendo, as cores dos uniformes e escudos dos clubes além de diferenciar as equipes dentro de campo, seguem representando também a história desses clubes e dos seus torcedores.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

DOIS TIMES, DUAS IDEOLOGIAS: FUTEBOL EM TEMPOS DE GUERRA FRIA. (Parte 2)

Hungria x Inglaterra: a vitória do 4-2-4 “socialista” sobre o WM “capitalista”.

Naquele 25 de novembro d 1953, a partida entre Inglaterra e Hungria em Wembley marcaria a história do futebol e do mundo não só por seu caráter político como também pelas inovações táticas do time de Puskas. Seria um jogo normal se não estivesse inserido no contexto da Guerra Fria. Opondo uma nação socialista (Hungria) e outra capitalista (Inglaterra) o confronto tornou-se importante propaganda para as duas ideologias e a vitória representaria a superioridade de um regime em relação ao outro. O campo de futebol tronara-se “área de influência” a ser conquistada.

No plano tático a influência da Guerra Fria era mais visível. O esquema 4-2-4 húngaro criado por Marton Bukovi, técnico do MTK, e aperfeiçoado por Gustav Sebes, técnico da seleção, mostrou-se mais eficiente do que o rígido WM (ou 3-2-2-3) inglês, sistematizado por Herbert Chapman no Arsenal e que funcionara muito bem na década de 1930.

Do ponto de vista defensivo, à marcação individual do WM “capitalista”, o 4-2-4 socialista opunha a marcação por zona, portanto a solidariedade dos jogadores trabalhando coletivamente, mais pelo bem comum do que pelo destaque pessoal, “burguês”. Conceito de zona criado, aliás, por estrategistas da geopolítica soviética.

Do ponto de vista ofensivo, a eficiência do 4-2-4 foi marcada pela mobilidade dos jogadores, como lembraria Puskas mais tarde: “Jogávamos muito sem a bola”. À imagem e semelhança dos agentes soviéticos que, infiltrados nos países ocidentais tentavam insuflar greves e revoltas que enfraquecessem o capitalismo. “Quando atacávamos, todos atacavam, na defesa acontecia a mesma coisa”, definiu Puskas o esquema tático húngaro que correspondia perfeitamente a atmosfera política da época.

Diante de 100 mil pessoas bastaram cinco toques e apenas cinqüenta minutos para a Hungria abrir o placar. Com meia hora venciam por 4 a 1. O resultado final foi uma goleada de 6 a 3 conquistada pelos húngaros sobre os anfitriões, que não perdiam em casa havia noventa anos. Logo, em tempos de Guerra Fria podemos dizer que, desse jogo, quem se sagrou vitorioso foi o socialismo.

DOIS TIMES, DUAS IDEOLOGIAS: FUTEBOL EM TEMPOS DE GUERRA FRIA. (Parte 1)

Surgem os números nos uniformes.

Ao final da Segunda Grande Guerra, o mundo encontrava-se dividido pela Cortina de Ferro, como definiria Winston Churchill, inaugurando um longo período de tensões entre os países do bloco capitalista, cuja potência era os Estados Unidos, e o bloco de países socialistas, liderados pela URSS, na chamada Guerra Fria.

O conflito fora basicamente ideológico, no qual as duas grandes potências mundiais, EUA e URSS, disputavam áreas de influência sem que houvesse um confronto físico direto entre eles.

Porém, essa disputa não se restringia somente ao campo político e, nesse contexto histórico, o futebol exerceria importante função. Visto como arma de propaganda, tanto para o regime socialista, quanto para o capitalista, esse esporte sofreria influências bastantes para mover transformações tanto na tática como nas suas regras. Nesse segundo caso uma pequena mudança foi inaugurada na Copa de 1950: a numeração das camisas dos jogadores. Essa prática já havia acontecido na final da Copa da Inglaterra em 1933 - quando os jogadores do Everton receberam camisas numeradas de 1 a 11 e os do Manchester City de 12 a 22 – e generalizou-se na Copa de 1950. Esse fato expressava também a crescente importância dos meios de comunicação, como o rádio, que precisavam identificar mais rapidamente cada jogador.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Renascimento e o calcio fiorentino

Na Florença do século XVI praticava-se um jogo com bola, o calcio, que para muitos historiadores é um dos ancestrais do futebol moderno. O termo calcio que significa "chute" é até hoje usado pelos italianos para designar futebol. Era um jogo urbano e realizado no principal espaço público da cidade (piazza Santa Croce); tinha número fixo de 27 jogadores por equipe; estipulava o uso de uniformes para distingui-los (um grupo verde, outro branco); criava a figura de árbitros, dez ao todo, além de uma codificação de regras, feita por Giovanni di Bardi. A distribuição espacial dos jogadores apresentava três primeiros defensores ou datori addietro, quatro outros defensores ou datori innanzi, cinco intermediários ou sconciatori e quinze atacantes ou innanzi.

As partidas de calcio eram realizadas no período do Carnaval, duravam uma hora e aconteciam num campo retangular de cem por 48 metros, com bola de dimensões semelhantes às atuais.
Apesar de praticado por todos os seguimentos sociais em seus primórdios, na segunda metade do século XVI ele se tornou exclusividade da nobreza. Há registros que estima em 40 mil o número de espectadores por partida e, fato curioso, Leonardo da Vinci fazia parte desses torcedores enquanto Nicolau Maquiavel, dos jogadores. Por esse caráter nobiliárquico, o calcio foi disputado em festas de casamento da família Medici, que governou a cidade nos séculos XV-XVIII e incentivou o esporte por ver nele um treinamento paramilitar da elite local. Essa estreita relação com o poder fez com que o calcio fiorentino desaparecesse em 1739 devido a mudanças político-sociais. Porém, em 1930, mais uma vez atrelado ao poder, esse esporte foi ressuscitado pelo Estado fascista numa comemoração ao quarto centenário de histórica partida jogada durante o cerco de Florença pelas tropas do imperador austríaco Carlos V.

No entanto, de acordo com o pesquisador Horst Bredekamp, "mais do que precursor do futebol, o calcio era uma variante independente que incluía elementos do rúgbi". O que reforça essa opinião é o fato de que nesse jogo a bola podia ser conduzida com as mãos e o objetivo era fazê-la passar por cima de uma barra transverssal, dois elementos do futuro rúgbi.


A propósito...

Este Blog foi criado com o intuito de trazer informações sobre o futebol mundial e mostrar a estreita relação desse esporte com a História.

"O futebol é um fenômeno cultural total, cujas relações com os mais variados campos do saber humano ajudam não apenas a iluminar a prática do esporte como a entender melhor a sociedade em que vivemos" - Hilário Franco Júnior