terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

O Wunderteam x Nazismo


Nos primeiros anos da década de 1930 o mundo do futebol assistiu ao surgimento de um dos maiores times europeus do século XX. Apresentando um futebol extremamente técnico e rápido, a seleção austríaca comandada por Hugo Meisl encantou o mundo de tal forma que foi apelidada de Wunderteam (Time Maravilha). Sua principal estrela era o atacante Matthias Sindelar, conhecido como o Homem de Papel, devido ao seu físico e à leveza com que driblava os adversários, parecendo flutuar em campo feito papel.

Do ponto vista histórico esse período ficou marcado pela ascensão do Nazismo na Alemanha. Ao assumir o poder em 1934, Adolf Hitler iniciou a organização do Terceiro Reich, objetivando, sobretudo, a formação do chamado Espaço Vital. Para tal, era necessário realizar a integração das comunidades alemãs dispersas na Europa, além de conquistar a Polônia e a Ucrânia. Uma dessas comunidades era a Áustria (além dos Sudetos e Dantzig) e sua "união" à Alemanha foi denominada pelos nazistas de Anschluss (anexação)
.

(Cartaz alemão.De um lado a bandeira alemã do outro a austríaca e ao centro a ligação que faltava para a união dos dois países: o Anschluss)

Contudo, as consequências dessa união para o futebol austríaco foram devastadoras. Três dos maiores clubes do país foram inseridos diretamente nas competições alemães: o Rapid Viena, o Admira Wie e o First Viena. Os nazistas ainda promoveriam a "depuração" das federações dos territórios anexados, dando início ao processo de arianização dos seus dirigentes.Nesse contexto, o presidente judeu do FK Viena, time de Sindelar, foi substituído por um político ligado ao SS.

Futebol e política continuariam a manter uma estreita relação ao longo desse período. Visando comemorar o Anschluss, as autoridades nazistas promoveram em 1938 o encontro entre as seleções da Alemanha e da Áustria. O estádio em Viena foi lotado por 60 mil torcedores austríacos que transformaram o jogo em protesto contra a anexação nazista. Os jogadores chegaram a sofrer intimidações por parte de oficiais da Gestapo, mas o Homem de Papel preferiu a coragem à covardia, marcando dois gols e comemorando-os de frente para os seguidores de Hitler na tribuna. A vitória austríaca teve sabor de revanche nacional. O futebol ainda lhes proporcionaria outra satisfação moral. Em 1941, na final do campeonato da Grande Alemanha, o Rapid Viena venceu por 4 a 3, de virada, o Shalk 04, clube alemão que apoiava o regime e era apoiado por ele (o que o ajudou a vencer seis campeonatos nacionais entre 1934 e 1942).

(Sindelar com o uniforme da única seleção que defendeu - Áustria)

Matthias Sindelar, além de grande jogador foi também um mártir da luta contra as forças nazistas. Em 1938 recusou-se a defender a seleção alemã na Copa da França e passou a ser perseguido pela polícia secreta alemã. Meses depois, em janeiro de 1939, foi encontrado morto com sua namorada em seu apartamento em Viena, ambos asfixiados por monóxidos de carbono em circunstâncias até hoje mal esclarecidas. Seu enterro reuniu cerca de 20 mil pessoas e transformou-se em demonstração de repúdio ao III Reich. Recentemente, Sindelar foi eleito pelo povo austríaco o maior jogador austríaco do século XX. Seu legado é o exemplo de dignidade e jogo limpo tanto nos gramados quanto na vida.

Áustria - Copa do Mundo de 1934: Bican; Braun; Cisar; Franzi; Hassmann; Hofmann; Horvath; Janda; Kaburek; Platzer; Raftl; Schall; Schmaus; Sesta, Sindelar; Smistik; Stroh; Urbanek; Viertl; Wagner; Walzhofer; Zischek. Treinador: Hugo Meisl.


FikDik: O Grande Ditador. Escrito, dirigido e interpretado por Charles Chaplin, esse filme é uma crítica bem humorada ao nazismo.

No YouTube: Documentário History Chanel http://www.youtube.com/watch?v=rcB8Heeh5XQ&feature=PlayList&p=E445319E9D1FB398&index=15

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Futebol de Batalhão na I Grande Guerra

(Soldados da I Guerra Mundial)

Resultado da animosidade acumulada entre as potências européias, a Primeira Guerra Mundial eclodiu em julho de 1914. Os homens da época acreditavam na possibilidade de uma guerra rápida e localizada. Mas o que se viu foram quatro anos de combates sangrentos entre os soldados da Tríplice Aliança e da Tríplice Entente que, ao final da guerra, em 11 de novembro de 1918, levaram a Europa a um esgotamento total e a uma crise generalizada.

Em meio a tudo isso, na Inglaterra, o berço do futebol moderno, as discussões a respeito dos esportes de massa ganhavam cada vez mais importância.O Ministério da Guerra percebeu, então, que o futebol poderia contribuir para o esforço de guerra, assumindo um papel crucial na tentativa de integração nacional.

Foi com esse pensamento que William Joynson-Hicks, membro do Parlamento, incentivou a formação de equipes de futebol a partir de batalhões, que realizariam partidas de exibição por todo o país. Sua missão era recrutar voluntários para o combate, usando o slogan: Jogue o Grande Jogo e se Aliste no Batalhão do Futebol. Isso porque, na Inglaterra, não existia alistamento obrigatório (até 1916). Dessa forma, cada partida envolvendo astros-soldados poderia representar literalmente sangue novo para o front.

(William Joynson-Hicks)

Nesse contexto, teve maior notabilidade o famoso 17° Batalhão de Middlesex, conhecido como Os Extremados (The Extremers). Assim como tantos outros, seu papel era claro: despertar o nacionalismo através do futebol. Após quase um ano de turnê, enfim Os Extremados foram enviados ao combate. Sua presença na França foi um poderoso meio de propaganda, no momento em que o moral das tropas estava abalado e carecia de um reforço especial.

No entanto, a realidade da guerra foi também devastadora para os soldados-jogadores do 17° de Middlesex. De duzentos jogadores que passaram pelo batalhão antes do combate, cerca de trinta sobreviveram até fevereiro de 1918, quando Os Extremados foram finalmente desmobilizados. Então, em poucos meses de batalha suas lendárias performances nos campos de futebol foram transformadas em vagas lembranças de soldados dos campos de guerra.





terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Tiro de meta: uma questão de transporte.



Nos dias atuais parece uma regra banal que só agiliza a reposição da bola em jogo, chutando-a para o mais próximo possível da meta adversária. Porém, no tempo de sua criação,1869, o Tiro de Meta correspondia à expectativa da época (Revolução Industrial) de unir de forma rápida um ponto de saída e seu ponto de chegada.

Partindo desse ponto de vista, pode-se dizer que a nova regra futebolística obedecia à lógica dos meios de transporte, que ligavam a casa dos operários e seu local de trabalho ou a fábrica e os mercados.Nesse contexto, destacaram-se as ferrovias (Manchester - Liverpool, em 1831, Londres - Brighton, em 1841), o metrô de Londres (1863), a navegação marítima (travessia do Atlântico por barco a vapor em 1838) e o transporte pessoal (invenção da bicicleta em 1865).

Ademais, o maior poder de locomoção facilitou a propagação do futebol. No lugar de somente partidas locais entre alunos de um mesmo colégio (e,posteriormente, entre trabalhadores de uma mesma fábrica), tornavam-se possíveis disputas intermunicipais e inter-regionais.

Esse processo é perceptível quando observamos a geografia futebolística inglesa da década de 1920. Vê-se que o surgimento ou fortalecimento de clubes acompanhou muito de perto o traçado das ferrovias.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Rivais - Dentro e fora de campo


EM NOME DA FÉ:
THE OLD FIRM - CELTIC x RANGERS

Brasil e Argentina que nada. A maior rivalidade da história do futebol moderno é travada na Escócia entre as equipes do Celtic Glasgow e Glasgow Rangers. Mas essa é uma disputa que extrapola os limites das quatro linhas e tem como pano de fundo conflitos político-religiosos. Nesse derby o confronto real é entre católicos e protestantes.

Criado em 1888, o Celtic tinha como um dos seus principais patrocinadores o Arcebispo de Glasgow. Além disso, era marcante a presença de padres nas arquibancadas do Celtic Park. E quando o time conquistou o tricampeonato, em 1893, seus dirigentes enviaram à Roma a seguinte mensagem: "Vossa santidade, nós ganhamos as três copas." Tal afinidade religiosa fez do clube uma verdadeira representação política, sendo para os imigrantes irlandeses na Escócia um referencial para assuntos que não poderiam ser negligenciados, como a Home Rule (autonomia irlandesa). Tanto que um dos primeiros patronos do clube foi um antigo membro do Sinn Féin (movimento político irlandês que outrora fora o braço político do IRA, Exército Republicano Irlandês), Michael Davitt.

(Trevo irlandês no escudo do Celtic)


Por outro lado, o Rangers, fundado em 1872, acabaria adquirindo a identidade de não somente protestante, mas fundamentalmente anticatólica. Favoráveis ao Reino Unido (manutenção da união política com a Inglaterra), o Rangers tem no escudo as mesmas cores da bandeira inglesa - azul, branca e vermelha. Já o Celtic, adotou o verde e o trevo emblemáticos da Irlanda.

(As cores inglesas no escudo do Rangers)

A incompatibilidade entre esses times aparece ainda em seus apelidos. Uns são o Pope's Eleven, o time do papa. Os outros são os Billy Boys, referência a William III, o rei inglês protestante que, em 1690, reconquistou a Irlanda. A oposição político-religiosa tem também conotação étnica, já que os torcedores do Celtic consideram-se de origem celta, o povo que habitava as ilhas britânicas antes da invasão dos anglo-saxões, no século V, dos quais os torcedores do Rangers se vêem descendentes.

(Remember 1690:faixa da torcida do Rangers relembrando o episódio do rei William III)

Na realidade, os jogadores de ambas as equipes acima citadas entram em campo não só para conquistar os três pontos de uma vitória, como também lutam pela causa na qual acreditam. Sendo assim, pode-se concluir que futebol, assim como o esporte em geral, é um espelho da sociedade, absorvendo e refletindo seus principais aspectos.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Selo Olha que Blog maneiro



Nos últimos dias o Futebol e História ganhou um presente do amigo Lucas Conrado. O autor do Meus Pensamentos indicou o FH ao selo Olha que Blog Maneiro. Gostaria, desde já, agradecê-lo por essa indicação e comemorar o primeiro selo do Futebol e História. É muito gratificante ter seu trabalho reconhecido e receber uma homenagem como essa é um incentivo para eu estar sempre trazendo novos textos para este blog. Mais uma vez, obrigada, Lucas.

Mas, antes de mais nada, é preciso publicar algumas regrinhas desse selo. Aqui vão elas:

1) Exibir a imagem do selo "Olha que Blog Maneiro" que você acabou de ganhar;
2) Postar o link do Blog que te indicou;
3) Indicar 10 blogs ao selo;
4) Avisar seus indicados;
5) Publicar as regras;
6) Conferir se os blogs repassaram o selo e as regras;
7) Enviar sua foto ou de um(a) amigo(a) para olhaquemaneiro@gmail.com junto com os 10 links dos blogs indicados para verificação. Se eles repassarem as regras e o selo corretamente, dentro de alguns dias você receberá uma caricatura em preto e branco.

Bom pessoal, como sou nova na blogosfera não conhecia muitos blogs para indicá-los. Precisei fazer uma pesquisa e encontrei textos interessantíssimos nos seguintes Blogs:

Blá Blá Blá
Flamengo Eternamente
Passes de Letra
Respirando Futebol
Eterna Bola
Futebol: uma história pra contar
Futebol Bonito
Jornalismo Esporte Clube
Blog do Ergos
Sobre o Futebol Carioca

Esses foram os meus 10 indicados e prometo avisar a todos no máximo até quarta-feira (04/02)

Beijos,
Lara Monsores.