segunda-feira, 17 de agosto de 2009

África do Sul, do Apartheid, do Futebol!


Desde o final da II Guerra, com a tomada do poder pelo Partido Nacional, a África do Sul ficara rotulada como a capital mundial da segregação racial. Hoje, superadas as diferenças e reestabelicida a democracia, o país foi escolhido para sediar a próxima Copa do Mundo de Futebol em 2010, e assim mostrar para o mundo que é uma nação livre do preconceito e da discriminação.

No entanto, no final da década de 1940, a política segregacionista instituída com o Apartheid atingiu a todos os setores da sociedade sul-africana. O meio esportivo, por sua vez, não ficou impune às determinações desse regime. Em 1976, o presidente Pieter Botha aprovou um pacote de medidas estabelecendo novas regras para a estrutura esportiva do país, tais como:

1. Cassar as federações unificadas e criar associações específicas para mestiços, indianos e africanos;
2. Criar novas federações raciais, impedindo associações livres;
3. Financiar e ajudar a composição de uma elite negra, reconhecendo sua existência como forma de manter o status quo, e justificando a política segregacionista do regime.

Se até então a Federação Sul-Africana de Futebol estava suspensa do quadro da FIFA, essas proposições foram determinantes para sua expulsão da entidade. Nesse contexto, o futebol transformou-se num dos principais catalisadores da luta contra o Apartheid, tendo como ponto de referência um clube em especial, o Winnie Mandela Football Club. Winnie era o nome da mulher de Nelson Mandela, homem que liderou a luta pela redemocratização africana, e seu time serviria como refúgio para líderes políticos e sindicais perseguidos pelo regime.



(Os Bafana Bafana com o líder Nelson Mandela)


Em 1991, enfim, com a extinsão do Apartheid, a África do Sul seria readmitida no cenário esportivo internacional, sendo aceita de volta pela FIFA em 1992. Com a vitória de Nelson Mandela, a Bafana Bafana (apelido pelo qual é conhecida a seleção nacional de futebol e que significa "garotos", em uma das línguas negras) se tornaria um poderoso fator de coesão nacional, uma das bases da democracia sul-africana. É possível perceber o valor dessa seleção para a nação sul-africana a partir da declaração do ex-técnico, Clive Barker, após a inédita classificação da África do Sul para uma Copa do Mundo, que aconteceria em 1998 na França:

"Hoje eu me sinto mais participante em relação à causa promovida por Mandela. Esta qualificação é a nossa contribuição. Vocês sabem, a Bafana Bafana é o símbolo da democracia sul-africana. O rugby é branco. O cricket é branco. Nós representamos todas as camadas da população. Nós somos a equipe do povo."

Nessa atmosfera de revolução surgiu um partido político um tanto quanto curioso, o Partido do Futebol, que anunciava em seu manifesto:

As manobras dos partidos políticos majoritários para conquistar o poder, particularmente nestes tempos incertos de mudanças, provocam grandes divisões no povo. Nós acreditamos que a liberdade e a verdade triunfam quando a alegria a unidade e a dignidade são os denominadores comuns de uma sociedade. O Partido do Futebol defende o desenvolvimento de uma nação unificada sobre uma plataforma de proposições que venham do esporte, da música e das artes. Estes domínios colocam de lado as divisões políticas e tocam as pessoas na vida cotidiana. Eles criam otimismo, espírito de equipe, confiança e unidade. Uni-vos em torno de seus interesses comuns.


(Seph Blater, presidente da FIFA, anuncia a nova sede do Mundial de Futebol - África do Sul)

E foi com esses ideais de liberdade e igualdade que a África do Sul conquistou o direito de sediar o maior evento esportivo do planeta, a Copa do Mundo de Futebol, que pretende apresentar para o mundo uma nova África, não a África do Apartheid, do preconceito racial, mas a África da alegria, da igualdade, do futebol.

sábado, 8 de agosto de 2009

Ditadura Galáctica

Se hoje o Real Madrid é o símbolo maior do poder econômico de um "clube-empresa", há algumas décadas, na Espanha de Francisco Franco (1939 a 1975), esse clube representava outro tipo de poder: o poder político de uma ditadura militar. Apesar de os madridistas não concordarem com essa associação, nos meios futebolísticos espanhóis o time da capital era visto como o clube do regime.

(Francisco Franco, El Generalíssimo)

Contava-se que em seu estádio havia uma tribuna envidraçada de onde o ditador assistia às partidas sem ser visto. Além disso, o mesmo arquiteto que projetou o Valle de Los Caídos (monumento à memória dos mortos na Guerra Civil que, posteriormente, seria o túmulo de Franco) participou da comissão de obras do novo estádio do Real, o Santiago Bernabéu. Esse nome fora dado à nova casa madrilenha em homenagem àquele que presidiu o clube por 35 anos e que, apesar de se declarar apolítico, fugira da cidade de Madri dominada pelos republicanos em 1936, alistara-se no exército nacionalista e nunca escondera sua simpatia pela monarquia.










(Valle de Los Caídos e o Estádio Santiago Bernabéu)

Embora negasse qualquer identificação com algum clube, a ditadura franquista reconhecia no Real Madrid duas características importantes do ponto de vista político: seu nome (Franco combatera a instauração da República) e sua origem castelhana. E, de fato, Franco aproveitou a popularidade nacional e internacional desse time como propaganda positiva do fascismo espanhol.

Um episódio polêmico ocorrido em 1953 com o jogador Alfredo di Stéfano é um bom exemplo da estreita relação entre futebol e política na Espanha franquista. O craque argentino tinha seu passe envolvido numa confusa transação entre River Plate, Millonarios, Real Madrid e Barcelona. Ele chegou a disputar alguns amistosos pelo clube catalão, mas a diretoria madrilenha não desistiu de contratá-lo e as autoridades desportivas decidiram por fazer o jogador atuar uma temporada em cada time, alternadamente, até se encerrar o contrato de quatro anos. Porém, o Barcelona não aceitou esse acordo e Di Stéfano fechou com o Real. Muitos atribuem à essa decisão o fato de Franco interferir diretamente na negociação, embora os madridistas neguem, inclusive Di Stéfano.

(Di Stéfano com as 5 Champions Leage que conquistou com o Real Madrid)

No entanto, Franco não foi o único a utilizar um clube nacional de grande apelo popular para se promover. Outros ditadores como Salazar (Sport Lisboa e Benfica), Hitler (Shalk 04) e Médici (Flamengo) também se associaram direta ou indiretamente aos times mais populares de seus países com objetivos políticos. Pode-se dizer que hoje, embora não seja um ditador, até o nosso presidente Lula usa essa estratégia com o Corinthians, fazendo o possível para ter sua imagem associada ao clube de segunda maior torcida do país. Fica claro, portanto, o poder simbólico que o futebol exerce também na política.

terça-feira, 31 de março de 2009

Madureira e o Revolucionário


Ultimamente, em minhas andanças pelo fantástico mundo da web, encontrei esta rara e maravilhosa imagem do revolucionário Ernesto Che Guevara, então Ministro da Indústria de Cuba, junto com jogadores do Madureira Esporte Clube. A fotografia foi tirada na ilha de Fidel em 1963, quando o tricolor suburbano fazia uma excursão mundial, aproveitando a valorização do Brasil no cenário mundial depois da conquista da Copa do Mundo de Futebol de 1962.

Dois anos antes, Che fora condecorado em Brasília, pelo então presidente Jânio Quadros com a Ordem do Cruzeiro do Sul. Envolvido com a natação - iniciativa de seus pais para minimizar sua asma - o líder argentino-cubano era também eterno torcedor do Rosário Central, chegando a jogar futebol como zagueiro e goleiro.

-"O contato com Che Guevara foi extremamente amigável. Ele foi carinhoso. Visitou-nos no hotel, no jogo a que assistiu, distribuiu flâmulas. Parecia um homem íntegro." Declarou Farah, meia do Madureira em 1963, ao jornal O Globo de 25 de setembro de 2005. Ele ainda revelou um fato curioso sobre os cubanos. "Eles queriam tudo o que tínhamos. Teve jogador vendendo roupa e deixando o país com muito mais dinheiro do que levou."

O Madureira fez cinco jogos em Cuba, goleando em quase todos. Apesar dessas derrotas, pode-se perceber por esta imagem que os cubanos, bem como Che, apreciaram a visita dos brasileiros à Havana. Um incrível retrato do fascínio gerado pelo futebol.

Placares:
Madureira 5 x 2 Industriales (campeão local)
Madureira 6 x 1 Municipalidad de Morrón
Madureira 11 x 1 Combinado Universitário
Madureira 1 x 0 Seleção de Havana
Madureira 3 x 2 Seleção de Havana (jogo ao qual Che compareceu)

Fontes:
Recorde: Revista de História do Esporte. Volume 1, número 2, dezembro de 2008. (IFCS-UFRJ)

Jornal O Globo, 25 de setembro de 2005.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

O Wunderteam x Nazismo


Nos primeiros anos da década de 1930 o mundo do futebol assistiu ao surgimento de um dos maiores times europeus do século XX. Apresentando um futebol extremamente técnico e rápido, a seleção austríaca comandada por Hugo Meisl encantou o mundo de tal forma que foi apelidada de Wunderteam (Time Maravilha). Sua principal estrela era o atacante Matthias Sindelar, conhecido como o Homem de Papel, devido ao seu físico e à leveza com que driblava os adversários, parecendo flutuar em campo feito papel.

Do ponto vista histórico esse período ficou marcado pela ascensão do Nazismo na Alemanha. Ao assumir o poder em 1934, Adolf Hitler iniciou a organização do Terceiro Reich, objetivando, sobretudo, a formação do chamado Espaço Vital. Para tal, era necessário realizar a integração das comunidades alemãs dispersas na Europa, além de conquistar a Polônia e a Ucrânia. Uma dessas comunidades era a Áustria (além dos Sudetos e Dantzig) e sua "união" à Alemanha foi denominada pelos nazistas de Anschluss (anexação)
.

(Cartaz alemão.De um lado a bandeira alemã do outro a austríaca e ao centro a ligação que faltava para a união dos dois países: o Anschluss)

Contudo, as consequências dessa união para o futebol austríaco foram devastadoras. Três dos maiores clubes do país foram inseridos diretamente nas competições alemães: o Rapid Viena, o Admira Wie e o First Viena. Os nazistas ainda promoveriam a "depuração" das federações dos territórios anexados, dando início ao processo de arianização dos seus dirigentes.Nesse contexto, o presidente judeu do FK Viena, time de Sindelar, foi substituído por um político ligado ao SS.

Futebol e política continuariam a manter uma estreita relação ao longo desse período. Visando comemorar o Anschluss, as autoridades nazistas promoveram em 1938 o encontro entre as seleções da Alemanha e da Áustria. O estádio em Viena foi lotado por 60 mil torcedores austríacos que transformaram o jogo em protesto contra a anexação nazista. Os jogadores chegaram a sofrer intimidações por parte de oficiais da Gestapo, mas o Homem de Papel preferiu a coragem à covardia, marcando dois gols e comemorando-os de frente para os seguidores de Hitler na tribuna. A vitória austríaca teve sabor de revanche nacional. O futebol ainda lhes proporcionaria outra satisfação moral. Em 1941, na final do campeonato da Grande Alemanha, o Rapid Viena venceu por 4 a 3, de virada, o Shalk 04, clube alemão que apoiava o regime e era apoiado por ele (o que o ajudou a vencer seis campeonatos nacionais entre 1934 e 1942).

(Sindelar com o uniforme da única seleção que defendeu - Áustria)

Matthias Sindelar, além de grande jogador foi também um mártir da luta contra as forças nazistas. Em 1938 recusou-se a defender a seleção alemã na Copa da França e passou a ser perseguido pela polícia secreta alemã. Meses depois, em janeiro de 1939, foi encontrado morto com sua namorada em seu apartamento em Viena, ambos asfixiados por monóxidos de carbono em circunstâncias até hoje mal esclarecidas. Seu enterro reuniu cerca de 20 mil pessoas e transformou-se em demonstração de repúdio ao III Reich. Recentemente, Sindelar foi eleito pelo povo austríaco o maior jogador austríaco do século XX. Seu legado é o exemplo de dignidade e jogo limpo tanto nos gramados quanto na vida.

Áustria - Copa do Mundo de 1934: Bican; Braun; Cisar; Franzi; Hassmann; Hofmann; Horvath; Janda; Kaburek; Platzer; Raftl; Schall; Schmaus; Sesta, Sindelar; Smistik; Stroh; Urbanek; Viertl; Wagner; Walzhofer; Zischek. Treinador: Hugo Meisl.


FikDik: O Grande Ditador. Escrito, dirigido e interpretado por Charles Chaplin, esse filme é uma crítica bem humorada ao nazismo.

No YouTube: Documentário History Chanel http://www.youtube.com/watch?v=rcB8Heeh5XQ&feature=PlayList&p=E445319E9D1FB398&index=15

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Futebol de Batalhão na I Grande Guerra

(Soldados da I Guerra Mundial)

Resultado da animosidade acumulada entre as potências européias, a Primeira Guerra Mundial eclodiu em julho de 1914. Os homens da época acreditavam na possibilidade de uma guerra rápida e localizada. Mas o que se viu foram quatro anos de combates sangrentos entre os soldados da Tríplice Aliança e da Tríplice Entente que, ao final da guerra, em 11 de novembro de 1918, levaram a Europa a um esgotamento total e a uma crise generalizada.

Em meio a tudo isso, na Inglaterra, o berço do futebol moderno, as discussões a respeito dos esportes de massa ganhavam cada vez mais importância.O Ministério da Guerra percebeu, então, que o futebol poderia contribuir para o esforço de guerra, assumindo um papel crucial na tentativa de integração nacional.

Foi com esse pensamento que William Joynson-Hicks, membro do Parlamento, incentivou a formação de equipes de futebol a partir de batalhões, que realizariam partidas de exibição por todo o país. Sua missão era recrutar voluntários para o combate, usando o slogan: Jogue o Grande Jogo e se Aliste no Batalhão do Futebol. Isso porque, na Inglaterra, não existia alistamento obrigatório (até 1916). Dessa forma, cada partida envolvendo astros-soldados poderia representar literalmente sangue novo para o front.

(William Joynson-Hicks)

Nesse contexto, teve maior notabilidade o famoso 17° Batalhão de Middlesex, conhecido como Os Extremados (The Extremers). Assim como tantos outros, seu papel era claro: despertar o nacionalismo através do futebol. Após quase um ano de turnê, enfim Os Extremados foram enviados ao combate. Sua presença na França foi um poderoso meio de propaganda, no momento em que o moral das tropas estava abalado e carecia de um reforço especial.

No entanto, a realidade da guerra foi também devastadora para os soldados-jogadores do 17° de Middlesex. De duzentos jogadores que passaram pelo batalhão antes do combate, cerca de trinta sobreviveram até fevereiro de 1918, quando Os Extremados foram finalmente desmobilizados. Então, em poucos meses de batalha suas lendárias performances nos campos de futebol foram transformadas em vagas lembranças de soldados dos campos de guerra.





terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Tiro de meta: uma questão de transporte.



Nos dias atuais parece uma regra banal que só agiliza a reposição da bola em jogo, chutando-a para o mais próximo possível da meta adversária. Porém, no tempo de sua criação,1869, o Tiro de Meta correspondia à expectativa da época (Revolução Industrial) de unir de forma rápida um ponto de saída e seu ponto de chegada.

Partindo desse ponto de vista, pode-se dizer que a nova regra futebolística obedecia à lógica dos meios de transporte, que ligavam a casa dos operários e seu local de trabalho ou a fábrica e os mercados.Nesse contexto, destacaram-se as ferrovias (Manchester - Liverpool, em 1831, Londres - Brighton, em 1841), o metrô de Londres (1863), a navegação marítima (travessia do Atlântico por barco a vapor em 1838) e o transporte pessoal (invenção da bicicleta em 1865).

Ademais, o maior poder de locomoção facilitou a propagação do futebol. No lugar de somente partidas locais entre alunos de um mesmo colégio (e,posteriormente, entre trabalhadores de uma mesma fábrica), tornavam-se possíveis disputas intermunicipais e inter-regionais.

Esse processo é perceptível quando observamos a geografia futebolística inglesa da década de 1920. Vê-se que o surgimento ou fortalecimento de clubes acompanhou muito de perto o traçado das ferrovias.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Rivais - Dentro e fora de campo


EM NOME DA FÉ:
THE OLD FIRM - CELTIC x RANGERS

Brasil e Argentina que nada. A maior rivalidade da história do futebol moderno é travada na Escócia entre as equipes do Celtic Glasgow e Glasgow Rangers. Mas essa é uma disputa que extrapola os limites das quatro linhas e tem como pano de fundo conflitos político-religiosos. Nesse derby o confronto real é entre católicos e protestantes.

Criado em 1888, o Celtic tinha como um dos seus principais patrocinadores o Arcebispo de Glasgow. Além disso, era marcante a presença de padres nas arquibancadas do Celtic Park. E quando o time conquistou o tricampeonato, em 1893, seus dirigentes enviaram à Roma a seguinte mensagem: "Vossa santidade, nós ganhamos as três copas." Tal afinidade religiosa fez do clube uma verdadeira representação política, sendo para os imigrantes irlandeses na Escócia um referencial para assuntos que não poderiam ser negligenciados, como a Home Rule (autonomia irlandesa). Tanto que um dos primeiros patronos do clube foi um antigo membro do Sinn Féin (movimento político irlandês que outrora fora o braço político do IRA, Exército Republicano Irlandês), Michael Davitt.

(Trevo irlandês no escudo do Celtic)


Por outro lado, o Rangers, fundado em 1872, acabaria adquirindo a identidade de não somente protestante, mas fundamentalmente anticatólica. Favoráveis ao Reino Unido (manutenção da união política com a Inglaterra), o Rangers tem no escudo as mesmas cores da bandeira inglesa - azul, branca e vermelha. Já o Celtic, adotou o verde e o trevo emblemáticos da Irlanda.

(As cores inglesas no escudo do Rangers)

A incompatibilidade entre esses times aparece ainda em seus apelidos. Uns são o Pope's Eleven, o time do papa. Os outros são os Billy Boys, referência a William III, o rei inglês protestante que, em 1690, reconquistou a Irlanda. A oposição político-religiosa tem também conotação étnica, já que os torcedores do Celtic consideram-se de origem celta, o povo que habitava as ilhas britânicas antes da invasão dos anglo-saxões, no século V, dos quais os torcedores do Rangers se vêem descendentes.

(Remember 1690:faixa da torcida do Rangers relembrando o episódio do rei William III)

Na realidade, os jogadores de ambas as equipes acima citadas entram em campo não só para conquistar os três pontos de uma vitória, como também lutam pela causa na qual acreditam. Sendo assim, pode-se concluir que futebol, assim como o esporte em geral, é um espelho da sociedade, absorvendo e refletindo seus principais aspectos.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Selo Olha que Blog maneiro



Nos últimos dias o Futebol e História ganhou um presente do amigo Lucas Conrado. O autor do Meus Pensamentos indicou o FH ao selo Olha que Blog Maneiro. Gostaria, desde já, agradecê-lo por essa indicação e comemorar o primeiro selo do Futebol e História. É muito gratificante ter seu trabalho reconhecido e receber uma homenagem como essa é um incentivo para eu estar sempre trazendo novos textos para este blog. Mais uma vez, obrigada, Lucas.

Mas, antes de mais nada, é preciso publicar algumas regrinhas desse selo. Aqui vão elas:

1) Exibir a imagem do selo "Olha que Blog Maneiro" que você acabou de ganhar;
2) Postar o link do Blog que te indicou;
3) Indicar 10 blogs ao selo;
4) Avisar seus indicados;
5) Publicar as regras;
6) Conferir se os blogs repassaram o selo e as regras;
7) Enviar sua foto ou de um(a) amigo(a) para olhaquemaneiro@gmail.com junto com os 10 links dos blogs indicados para verificação. Se eles repassarem as regras e o selo corretamente, dentro de alguns dias você receberá uma caricatura em preto e branco.

Bom pessoal, como sou nova na blogosfera não conhecia muitos blogs para indicá-los. Precisei fazer uma pesquisa e encontrei textos interessantíssimos nos seguintes Blogs:

Blá Blá Blá
Flamengo Eternamente
Passes de Letra
Respirando Futebol
Eterna Bola
Futebol: uma história pra contar
Futebol Bonito
Jornalismo Esporte Clube
Blog do Ergos
Sobre o Futebol Carioca

Esses foram os meus 10 indicados e prometo avisar a todos no máximo até quarta-feira (04/02)

Beijos,
Lara Monsores.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Azzurra, Canarinho, Le Bleu, Celeste: a representatividade das cores.


Vermelho, branco, verde, azul, preto, amarelo são cores que estão presentes em camisas e bandeiras pelos estádios mundo afora. Cada qual transmitindo sensações, significados, representando um time ou uma comunidade inteira. A verdade é que no processo de formação de identidade de um clube as cores desempenham papel central. De um lado para definir a identidade comunitária para si mesmo, como ilustra o caso de dois times da mesma cidade, o Everton e o Liverpool. O primeiro, criado em 1878, tinha como cor o azul, porém pouco tempo depois mudou para o vermelho. No entanto, um grupo de jogadores abandonou o clube e, em 1892, fundou o Liverpool, adotando o azul. Mas em 1896 o Everton retornou ao azul e o rival passou ao vermelho, que o identificou de tal forma que passou a ser o apelido do time (Reds).

Essa questão das cores aparece também na conotação sociológica dos diferentes tons de vermelho do Milan, do Torino e da Roma para sugerir clãs do proletariado urbano e nos tons de azul da Internazionale e da Lazio que apontam, respectivamente, clãs da burguesia urbana e da aristocracia fundiária. E por questão ideológica a seleção holandesa trocou as cores nacionais (vermelho, branco e azul) pelo laranja da dinastia Orange, que no século XVI libertou o país da ocupação espanhola. Do mesmo modo a seleção italiana não utiliza as cores da bandeira (verde, branco e vermelho) no uniforme, e sim, desde 1912, o azul da dinastia de Savóia, que governava o país. Daí seu apelido futebolístico Azzurra.

Por coincidência ou não o vermelho é uma das cores que predominam nos campos de futebol. Tal cor está associada à maior nível de testosterona e, por conseguinte, agressividade e capacidade física. Um dos fundadores do Milan, Herbert Kelpin, explicou a escolha das cores do clube: “optemos pelo vermelho porque somos diabos. Coloquemos um pouco de preto para dar medo a todos”. E a cor do diabo assim caracteriza os times que a adotam: Manchester United ou Red Devils, Independiente ou Diablos Rojos e a seleção belga conhecida como Diables Rouges.

O Brasil, com identidade nacional ainda em construção quando da introdução do futebol, abandonou o branco usado até a Copa de 1950 pela seleção nacional para utilizar a clássica amarela ou Canarinho.

Assim sendo, as cores dos uniformes e escudos dos clubes além de diferenciar as equipes dentro de campo, seguem representando também a história desses clubes e dos seus torcedores.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

DOIS TIMES, DUAS IDEOLOGIAS: FUTEBOL EM TEMPOS DE GUERRA FRIA. (Parte 2)

Hungria x Inglaterra: a vitória do 4-2-4 “socialista” sobre o WM “capitalista”.

Naquele 25 de novembro d 1953, a partida entre Inglaterra e Hungria em Wembley marcaria a história do futebol e do mundo não só por seu caráter político como também pelas inovações táticas do time de Puskas. Seria um jogo normal se não estivesse inserido no contexto da Guerra Fria. Opondo uma nação socialista (Hungria) e outra capitalista (Inglaterra) o confronto tornou-se importante propaganda para as duas ideologias e a vitória representaria a superioridade de um regime em relação ao outro. O campo de futebol tronara-se “área de influência” a ser conquistada.

No plano tático a influência da Guerra Fria era mais visível. O esquema 4-2-4 húngaro criado por Marton Bukovi, técnico do MTK, e aperfeiçoado por Gustav Sebes, técnico da seleção, mostrou-se mais eficiente do que o rígido WM (ou 3-2-2-3) inglês, sistematizado por Herbert Chapman no Arsenal e que funcionara muito bem na década de 1930.

Do ponto de vista defensivo, à marcação individual do WM “capitalista”, o 4-2-4 socialista opunha a marcação por zona, portanto a solidariedade dos jogadores trabalhando coletivamente, mais pelo bem comum do que pelo destaque pessoal, “burguês”. Conceito de zona criado, aliás, por estrategistas da geopolítica soviética.

Do ponto de vista ofensivo, a eficiência do 4-2-4 foi marcada pela mobilidade dos jogadores, como lembraria Puskas mais tarde: “Jogávamos muito sem a bola”. À imagem e semelhança dos agentes soviéticos que, infiltrados nos países ocidentais tentavam insuflar greves e revoltas que enfraquecessem o capitalismo. “Quando atacávamos, todos atacavam, na defesa acontecia a mesma coisa”, definiu Puskas o esquema tático húngaro que correspondia perfeitamente a atmosfera política da época.

Diante de 100 mil pessoas bastaram cinco toques e apenas cinqüenta minutos para a Hungria abrir o placar. Com meia hora venciam por 4 a 1. O resultado final foi uma goleada de 6 a 3 conquistada pelos húngaros sobre os anfitriões, que não perdiam em casa havia noventa anos. Logo, em tempos de Guerra Fria podemos dizer que, desse jogo, quem se sagrou vitorioso foi o socialismo.

DOIS TIMES, DUAS IDEOLOGIAS: FUTEBOL EM TEMPOS DE GUERRA FRIA. (Parte 1)

Surgem os números nos uniformes.

Ao final da Segunda Grande Guerra, o mundo encontrava-se dividido pela Cortina de Ferro, como definiria Winston Churchill, inaugurando um longo período de tensões entre os países do bloco capitalista, cuja potência era os Estados Unidos, e o bloco de países socialistas, liderados pela URSS, na chamada Guerra Fria.

O conflito fora basicamente ideológico, no qual as duas grandes potências mundiais, EUA e URSS, disputavam áreas de influência sem que houvesse um confronto físico direto entre eles.

Porém, essa disputa não se restringia somente ao campo político e, nesse contexto histórico, o futebol exerceria importante função. Visto como arma de propaganda, tanto para o regime socialista, quanto para o capitalista, esse esporte sofreria influências bastantes para mover transformações tanto na tática como nas suas regras. Nesse segundo caso uma pequena mudança foi inaugurada na Copa de 1950: a numeração das camisas dos jogadores. Essa prática já havia acontecido na final da Copa da Inglaterra em 1933 - quando os jogadores do Everton receberam camisas numeradas de 1 a 11 e os do Manchester City de 12 a 22 – e generalizou-se na Copa de 1950. Esse fato expressava também a crescente importância dos meios de comunicação, como o rádio, que precisavam identificar mais rapidamente cada jogador.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Renascimento e o calcio fiorentino

Na Florença do século XVI praticava-se um jogo com bola, o calcio, que para muitos historiadores é um dos ancestrais do futebol moderno. O termo calcio que significa "chute" é até hoje usado pelos italianos para designar futebol. Era um jogo urbano e realizado no principal espaço público da cidade (piazza Santa Croce); tinha número fixo de 27 jogadores por equipe; estipulava o uso de uniformes para distingui-los (um grupo verde, outro branco); criava a figura de árbitros, dez ao todo, além de uma codificação de regras, feita por Giovanni di Bardi. A distribuição espacial dos jogadores apresentava três primeiros defensores ou datori addietro, quatro outros defensores ou datori innanzi, cinco intermediários ou sconciatori e quinze atacantes ou innanzi.

As partidas de calcio eram realizadas no período do Carnaval, duravam uma hora e aconteciam num campo retangular de cem por 48 metros, com bola de dimensões semelhantes às atuais.
Apesar de praticado por todos os seguimentos sociais em seus primórdios, na segunda metade do século XVI ele se tornou exclusividade da nobreza. Há registros que estima em 40 mil o número de espectadores por partida e, fato curioso, Leonardo da Vinci fazia parte desses torcedores enquanto Nicolau Maquiavel, dos jogadores. Por esse caráter nobiliárquico, o calcio foi disputado em festas de casamento da família Medici, que governou a cidade nos séculos XV-XVIII e incentivou o esporte por ver nele um treinamento paramilitar da elite local. Essa estreita relação com o poder fez com que o calcio fiorentino desaparecesse em 1739 devido a mudanças político-sociais. Porém, em 1930, mais uma vez atrelado ao poder, esse esporte foi ressuscitado pelo Estado fascista numa comemoração ao quarto centenário de histórica partida jogada durante o cerco de Florença pelas tropas do imperador austríaco Carlos V.

No entanto, de acordo com o pesquisador Horst Bredekamp, "mais do que precursor do futebol, o calcio era uma variante independente que incluía elementos do rúgbi". O que reforça essa opinião é o fato de que nesse jogo a bola podia ser conduzida com as mãos e o objetivo era fazê-la passar por cima de uma barra transverssal, dois elementos do futuro rúgbi.


A propósito...

Este Blog foi criado com o intuito de trazer informações sobre o futebol mundial e mostrar a estreita relação desse esporte com a História.

"O futebol é um fenômeno cultural total, cujas relações com os mais variados campos do saber humano ajudam não apenas a iluminar a prática do esporte como a entender melhor a sociedade em que vivemos" - Hilário Franco Júnior