quarta-feira, 11 de agosto de 2010

A tentativa de boicote à Copa de 78


Greve, revolução, reivindicação, revolta. Possivelmente essas foram as palavras mais ouvidas na concentração da seleção francesa no mundial da África do Sul, em 2010. Insatisfeitos com os métodos autoritários do treinador Raymond Domenech, os jogadores, liderados por Patrice Evra, armaram uma verdadeira greve e se recusaram a treinar depois que o atacante Nicolas Anelka fora mandado de volta à Paris por conta de uma discussão com o treinador. Resultado da confusão: crise, seleção eliminada de forma vergonhosa e intervenção do Estado que, na pessoa da Ministra dos Esportes, Mme Roselyn Bachelot exigiu dos seus atletas maior respeito para com a imagem do país no exterior. Mas, essa não foi a primeira vez que os bleus colocaram em prática os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade numa Copa do Mundo.

Durante as décadas de 1960 e 1970 alguns países da América Latina sofreram com governos totalitários. A Argentina foi um deles. Em 1976, o general Jorge Rafael Videla chegaou ao poder graças à um golpe militar que tirou da presidência Isabel Perón e instalou no país uma violenta ditadura durante sete anos. Assim como em todo regime ditatorial, os militares perseguiram e oprimiram seus opositores, submetendo-os aos mais cruéis métodos de tortura. A maior parte dos "subversivos" foi eliminada por grupos de extermínio e estima-se em mais de 20.000 o número de mortos ou desaparecidos durante o período que ficou conhecido como Guerra Suja.

Logo oficial da Copa de 78 e cartaz de protesto do COBA ("Não ao futebol entre os campos de concentração")


No entanto, cerca de dez anos antes, a FIFA já havia escolhido a Argentina como sede do mundial de 1978 e o presidente João Havelange não voltou atrás na decisão. No mundo inteiro surgiram protestos contra a realização do evento e na França, argentinos exilados se uniram com franceses para criar o Comitê pelo Boicote da Organização da Copa do Mundo de Futebol (COBA). Diariamente um intenso debate ocupava as páginas dos jornais Le Monde e Figaro. Em pouco tempo, artistas e intelectuais como Alain Touraine, Jean Paul Sartre, Louis Aragon e Roland Barthes aderiram ao movimento que tentava sensibilizar as federações nacionais e convencer a FIFA de que a Copa do Mundo não poderia ser disputada num país que desrespeitava os direitos humanos. Junto com a Anistia Internacional o COBA redigiu um documento enumerando as razões do boicote.

" A equipe da França, qualificada no dia 16 de novembro último, jogará a 800 metros do mais terrível centro de torturas do país? Esta é, de fato, a distância que separa o estádio do River Plate, onde devem se realizar as principais partidas da Copa do Mundo, da Escuela de Mecanica de la Armada, sede do sinistro Grupo de Tareas 33, verdadeira Gestapo argentina (...) É também da Escuela de Mecanica de onde decolam os helicópteros que vão lançar os corpos mutilados das vítimas no Rio da Prata ou no Atlântico."

No mapa vê-se a proximidade entre a ESMA (A) e o Estádio Monumental de Nuñez (B)

Mas, apesar de todos os protestos, os países classificados confirmaram suas presenças e o mundial foi realizado. No embarque da seleção francesa à Argentina, membros do COBA ainda tentaram sequestrar o treinador dos bleus, Michel Hidalgo, mas fracassaram. Os apelos do movimento atingiram alguns jogadores como o holandês Van Hanegem e o meiocampista alemão Paul Breitner, que se recusaram a jogar a Copa na Argentina. Por muito tempo acreditou-se que o craque Johan Cruyff também teria boicotado o mundial. Mas, recentemente, o próprio jogador desmentiu essa versão e revelou que teria sofrido uma tentativa de sequestro, em 1977, que o havia abalado muito.

Assim como aconteceu na Itália fascista de 1934, a Copa da Argentina foi marcada por escândalos de arbitragem e manifestações contra o regime ditatorial. Além disso, há quem diga que as comemorações depois do controverso seis a zero da seleção alviceleste sobre o Peru serviram para abafar os gritos de protestos das Mães da Praça de Maio, que buscavam informações sobre seus filhos desaparecidos. E na entrega das medalhas após a partida final, a seleção holandesa, vice-campeã, protagonizou um último gesto de repúdio ao governo militar, dando as costas ao general Jorge Rafael Videla.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

África do Sul, do Apartheid, do Futebol!


Desde o final da II Guerra, com a tomada do poder pelo Partido Nacional, a África do Sul ficara rotulada como a capital mundial da segregação racial. Hoje, superadas as diferenças e reestabelicida a democracia, o país foi escolhido para sediar a próxima Copa do Mundo de Futebol em 2010, e assim mostrar para o mundo que é uma nação livre do preconceito e da discriminação.

No entanto, no final da década de 1940, a política segregacionista instituída com o Apartheid atingiu a todos os setores da sociedade sul-africana. O meio esportivo, por sua vez, não ficou impune às determinações desse regime. Em 1976, o presidente Pieter Botha aprovou um pacote de medidas estabelecendo novas regras para a estrutura esportiva do país, tais como:

1. Cassar as federações unificadas e criar associações específicas para mestiços, indianos e africanos;
2. Criar novas federações raciais, impedindo associações livres;
3. Financiar e ajudar a composição de uma elite negra, reconhecendo sua existência como forma de manter o status quo, e justificando a política segregacionista do regime.

Se até então a Federação Sul-Africana de Futebol estava suspensa do quadro da FIFA, essas proposições foram determinantes para sua expulsão da entidade. Nesse contexto, o futebol transformou-se num dos principais catalisadores da luta contra o Apartheid, tendo como ponto de referência um clube em especial, o Winnie Mandela Football Club. Winnie era o nome da mulher de Nelson Mandela, homem que liderou a luta pela redemocratização africana, e seu time serviria como refúgio para líderes políticos e sindicais perseguidos pelo regime.



(Os Bafana Bafana com o líder Nelson Mandela)


Em 1991, enfim, com a extinsão do Apartheid, a África do Sul seria readmitida no cenário esportivo internacional, sendo aceita de volta pela FIFA em 1992. Com a vitória de Nelson Mandela, a Bafana Bafana (apelido pelo qual é conhecida a seleção nacional de futebol e que significa "garotos", em uma das línguas negras) se tornaria um poderoso fator de coesão nacional, uma das bases da democracia sul-africana. É possível perceber o valor dessa seleção para a nação sul-africana a partir da declaração do ex-técnico, Clive Barker, após a inédita classificação da África do Sul para uma Copa do Mundo, que aconteceria em 1998 na França:

"Hoje eu me sinto mais participante em relação à causa promovida por Mandela. Esta qualificação é a nossa contribuição. Vocês sabem, a Bafana Bafana é o símbolo da democracia sul-africana. O rugby é branco. O cricket é branco. Nós representamos todas as camadas da população. Nós somos a equipe do povo."

Nessa atmosfera de revolução surgiu um partido político um tanto quanto curioso, o Partido do Futebol, que anunciava em seu manifesto:

As manobras dos partidos políticos majoritários para conquistar o poder, particularmente nestes tempos incertos de mudanças, provocam grandes divisões no povo. Nós acreditamos que a liberdade e a verdade triunfam quando a alegria a unidade e a dignidade são os denominadores comuns de uma sociedade. O Partido do Futebol defende o desenvolvimento de uma nação unificada sobre uma plataforma de proposições que venham do esporte, da música e das artes. Estes domínios colocam de lado as divisões políticas e tocam as pessoas na vida cotidiana. Eles criam otimismo, espírito de equipe, confiança e unidade. Uni-vos em torno de seus interesses comuns.


(Seph Blater, presidente da FIFA, anuncia a nova sede do Mundial de Futebol - África do Sul)

E foi com esses ideais de liberdade e igualdade que a África do Sul conquistou o direito de sediar o maior evento esportivo do planeta, a Copa do Mundo de Futebol, que pretende apresentar para o mundo uma nova África, não a África do Apartheid, do preconceito racial, mas a África da alegria, da igualdade, do futebol.

sábado, 8 de agosto de 2009

Ditadura Galáctica

Se hoje o Real Madrid é o símbolo maior do poder econômico de um "clube-empresa", há algumas décadas, na Espanha de Francisco Franco (1939 a 1975), esse clube representava outro tipo de poder: o poder político de uma ditadura militar. Apesar de os madridistas não concordarem com essa associação, nos meios futebolísticos espanhóis o time da capital era visto como o clube do regime.

(Francisco Franco, El Generalíssimo)

Contava-se que em seu estádio havia uma tribuna envidraçada de onde o ditador assistia às partidas sem ser visto. Além disso, o mesmo arquiteto que projetou o Valle de Los Caídos (monumento à memória dos mortos na Guerra Civil que, posteriormente, seria o túmulo de Franco) participou da comissão de obras do novo estádio do Real, o Santiago Bernabéu. Esse nome fora dado à nova casa madrilenha em homenagem àquele que presidiu o clube por 35 anos e que, apesar de se declarar apolítico, fugira da cidade de Madri dominada pelos republicanos em 1936, alistara-se no exército nacionalista e nunca escondera sua simpatia pela monarquia.










(Valle de Los Caídos e o Estádio Santiago Bernabéu)

Embora negasse qualquer identificação com algum clube, a ditadura franquista reconhecia no Real Madrid duas características importantes do ponto de vista político: seu nome (Franco combatera a instauração da República) e sua origem castelhana. E, de fato, Franco aproveitou a popularidade nacional e internacional desse time como propaganda positiva do fascismo espanhol.

Um episódio polêmico ocorrido em 1953 com o jogador Alfredo di Stéfano é um bom exemplo da estreita relação entre futebol e política na Espanha franquista. O craque argentino tinha seu passe envolvido numa confusa transação entre River Plate, Millonarios, Real Madrid e Barcelona. Ele chegou a disputar alguns amistosos pelo clube catalão, mas a diretoria madrilenha não desistiu de contratá-lo e as autoridades desportivas decidiram por fazer o jogador atuar uma temporada em cada time, alternadamente, até se encerrar o contrato de quatro anos. Porém, o Barcelona não aceitou esse acordo e Di Stéfano fechou com o Real. Muitos atribuem à essa decisão o fato de Franco interferir diretamente na negociação, embora os madridistas neguem, inclusive Di Stéfano.

(Di Stéfano com as 5 Champions Leage que conquistou com o Real Madrid)

No entanto, Franco não foi o único a utilizar um clube nacional de grande apelo popular para se promover. Outros ditadores como Salazar (Sport Lisboa e Benfica), Hitler (Shalk 04) e Médici (Flamengo) também se associaram direta ou indiretamente aos times mais populares de seus países com objetivos políticos. Pode-se dizer que hoje, embora não seja um ditador, até o nosso presidente Lula usa essa estratégia com o Corinthians, fazendo o possível para ter sua imagem associada ao clube de segunda maior torcida do país. Fica claro, portanto, o poder simbólico que o futebol exerce também na política.

terça-feira, 31 de março de 2009

Madureira e o Revolucionário


Ultimamente, em minhas andanças pelo fantástico mundo da web, encontrei esta rara e maravilhosa imagem do revolucionário Ernesto Che Guevara, então Ministro da Indústria de Cuba, junto com jogadores do Madureira Esporte Clube. A fotografia foi tirada na ilha de Fidel em 1963, quando o tricolor suburbano fazia uma excursão mundial, aproveitando a valorização do Brasil no cenário mundial depois da conquista da Copa do Mundo de Futebol de 1962.

Dois anos antes, Che fora condecorado em Brasília, pelo então presidente Jânio Quadros com a Ordem do Cruzeiro do Sul. Envolvido com a natação - iniciativa de seus pais para minimizar sua asma - o líder argentino-cubano era também eterno torcedor do Rosário Central, chegando a jogar futebol como zagueiro e goleiro.

-"O contato com Che Guevara foi extremamente amigável. Ele foi carinhoso. Visitou-nos no hotel, no jogo a que assistiu, distribuiu flâmulas. Parecia um homem íntegro." Declarou Farah, meia do Madureira em 1963, ao jornal O Globo de 25 de setembro de 2005. Ele ainda revelou um fato curioso sobre os cubanos. "Eles queriam tudo o que tínhamos. Teve jogador vendendo roupa e deixando o país com muito mais dinheiro do que levou."

O Madureira fez cinco jogos em Cuba, goleando em quase todos. Apesar dessas derrotas, pode-se perceber por esta imagem que os cubanos, bem como Che, apreciaram a visita dos brasileiros à Havana. Um incrível retrato do fascínio gerado pelo futebol.

Placares:
Madureira 5 x 2 Industriales (campeão local)
Madureira 6 x 1 Municipalidad de Morrón
Madureira 11 x 1 Combinado Universitário
Madureira 1 x 0 Seleção de Havana
Madureira 3 x 2 Seleção de Havana (jogo ao qual Che compareceu)

Fontes:
Recorde: Revista de História do Esporte. Volume 1, número 2, dezembro de 2008. (IFCS-UFRJ)

Jornal O Globo, 25 de setembro de 2005.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

O Wunderteam x Nazismo


Nos primeiros anos da década de 1930 o mundo do futebol assistiu ao surgimento de um dos maiores times europeus do século XX. Apresentando um futebol extremamente técnico e rápido, a seleção austríaca comandada por Hugo Meisl encantou o mundo de tal forma que foi apelidada de Wunderteam (Time Maravilha). Sua principal estrela era o atacante Matthias Sindelar, conhecido como o Homem de Papel, devido ao seu físico e à leveza com que driblava os adversários, parecendo flutuar em campo feito papel.

Do ponto vista histórico esse período ficou marcado pela ascensão do Nazismo na Alemanha. Ao assumir o poder em 1934, Adolf Hitler iniciou a organização do Terceiro Reich, objetivando, sobretudo, a formação do chamado Espaço Vital. Para tal, era necessário realizar a integração das comunidades alemãs dispersas na Europa, além de conquistar a Polônia e a Ucrânia. Uma dessas comunidades era a Áustria (além dos Sudetos e Dantzig) e sua "união" à Alemanha foi denominada pelos nazistas de Anschluss (anexação)
.

(Cartaz alemão.De um lado a bandeira alemã do outro a austríaca e ao centro a ligação que faltava para a união dos dois países: o Anschluss)

Contudo, as consequências dessa união para o futebol austríaco foram devastadoras. Três dos maiores clubes do país foram inseridos diretamente nas competições alemães: o Rapid Viena, o Admira Wie e o First Viena. Os nazistas ainda promoveriam a "depuração" das federações dos territórios anexados, dando início ao processo de arianização dos seus dirigentes.Nesse contexto, o presidente judeu do FK Viena, time de Sindelar, foi substituído por um político ligado ao SS.

Futebol e política continuariam a manter uma estreita relação ao longo desse período. Visando comemorar o Anschluss, as autoridades nazistas promoveram em 1938 o encontro entre as seleções da Alemanha e da Áustria. O estádio em Viena foi lotado por 60 mil torcedores austríacos que transformaram o jogo em protesto contra a anexação nazista. Os jogadores chegaram a sofrer intimidações por parte de oficiais da Gestapo, mas o Homem de Papel preferiu a coragem à covardia, marcando dois gols e comemorando-os de frente para os seguidores de Hitler na tribuna. A vitória austríaca teve sabor de revanche nacional. O futebol ainda lhes proporcionaria outra satisfação moral. Em 1941, na final do campeonato da Grande Alemanha, o Rapid Viena venceu por 4 a 3, de virada, o Shalk 04, clube alemão que apoiava o regime e era apoiado por ele (o que o ajudou a vencer seis campeonatos nacionais entre 1934 e 1942).

(Sindelar com o uniforme da única seleção que defendeu - Áustria)

Matthias Sindelar, além de grande jogador foi também um mártir da luta contra as forças nazistas. Em 1938 recusou-se a defender a seleção alemã na Copa da França e passou a ser perseguido pela polícia secreta alemã. Meses depois, em janeiro de 1939, foi encontrado morto com sua namorada em seu apartamento em Viena, ambos asfixiados por monóxidos de carbono em circunstâncias até hoje mal esclarecidas. Seu enterro reuniu cerca de 20 mil pessoas e transformou-se em demonstração de repúdio ao III Reich. Recentemente, Sindelar foi eleito pelo povo austríaco o maior jogador austríaco do século XX. Seu legado é o exemplo de dignidade e jogo limpo tanto nos gramados quanto na vida.

Áustria - Copa do Mundo de 1934: Bican; Braun; Cisar; Franzi; Hassmann; Hofmann; Horvath; Janda; Kaburek; Platzer; Raftl; Schall; Schmaus; Sesta, Sindelar; Smistik; Stroh; Urbanek; Viertl; Wagner; Walzhofer; Zischek. Treinador: Hugo Meisl.


FikDik: O Grande Ditador. Escrito, dirigido e interpretado por Charles Chaplin, esse filme é uma crítica bem humorada ao nazismo.

No YouTube: Documentário History Chanel http://www.youtube.com/watch?v=rcB8Heeh5XQ&feature=PlayList&p=E445319E9D1FB398&index=15

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Futebol de Batalhão na I Grande Guerra

(Soldados da I Guerra Mundial)

Resultado da animosidade acumulada entre as potências européias, a Primeira Guerra Mundial eclodiu em julho de 1914. Os homens da época acreditavam na possibilidade de uma guerra rápida e localizada. Mas o que se viu foram quatro anos de combates sangrentos entre os soldados da Tríplice Aliança e da Tríplice Entente que, ao final da guerra, em 11 de novembro de 1918, levaram a Europa a um esgotamento total e a uma crise generalizada.

Em meio a tudo isso, na Inglaterra, o berço do futebol moderno, as discussões a respeito dos esportes de massa ganhavam cada vez mais importância.O Ministério da Guerra percebeu, então, que o futebol poderia contribuir para o esforço de guerra, assumindo um papel crucial na tentativa de integração nacional.

Foi com esse pensamento que William Joynson-Hicks, membro do Parlamento, incentivou a formação de equipes de futebol a partir de batalhões, que realizariam partidas de exibição por todo o país. Sua missão era recrutar voluntários para o combate, usando o slogan: Jogue o Grande Jogo e se Aliste no Batalhão do Futebol. Isso porque, na Inglaterra, não existia alistamento obrigatório (até 1916). Dessa forma, cada partida envolvendo astros-soldados poderia representar literalmente sangue novo para o front.

(William Joynson-Hicks)

Nesse contexto, teve maior notabilidade o famoso 17° Batalhão de Middlesex, conhecido como Os Extremados (The Extremers). Assim como tantos outros, seu papel era claro: despertar o nacionalismo através do futebol. Após quase um ano de turnê, enfim Os Extremados foram enviados ao combate. Sua presença na França foi um poderoso meio de propaganda, no momento em que o moral das tropas estava abalado e carecia de um reforço especial.

No entanto, a realidade da guerra foi também devastadora para os soldados-jogadores do 17° de Middlesex. De duzentos jogadores que passaram pelo batalhão antes do combate, cerca de trinta sobreviveram até fevereiro de 1918, quando Os Extremados foram finalmente desmobilizados. Então, em poucos meses de batalha suas lendárias performances nos campos de futebol foram transformadas em vagas lembranças de soldados dos campos de guerra.





terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Tiro de meta: uma questão de transporte.



Nos dias atuais parece uma regra banal que só agiliza a reposição da bola em jogo, chutando-a para o mais próximo possível da meta adversária. Porém, no tempo de sua criação,1869, o Tiro de Meta correspondia à expectativa da época (Revolução Industrial) de unir de forma rápida um ponto de saída e seu ponto de chegada.

Partindo desse ponto de vista, pode-se dizer que a nova regra futebolística obedecia à lógica dos meios de transporte, que ligavam a casa dos operários e seu local de trabalho ou a fábrica e os mercados.Nesse contexto, destacaram-se as ferrovias (Manchester - Liverpool, em 1831, Londres - Brighton, em 1841), o metrô de Londres (1863), a navegação marítima (travessia do Atlântico por barco a vapor em 1838) e o transporte pessoal (invenção da bicicleta em 1865).

Ademais, o maior poder de locomoção facilitou a propagação do futebol. No lugar de somente partidas locais entre alunos de um mesmo colégio (e,posteriormente, entre trabalhadores de uma mesma fábrica), tornavam-se possíveis disputas intermunicipais e inter-regionais.

Esse processo é perceptível quando observamos a geografia futebolística inglesa da década de 1920. Vê-se que o surgimento ou fortalecimento de clubes acompanhou muito de perto o traçado das ferrovias.